o problema é olhar

É tão leviano e inútil declarar essas coisas, descrever esses sentidos, eu sei que não é importante dar nome a esse aperto no peito.
Ele apenas vem,
Ele apenas aperta,
Depois passa.

O problema mesmo é aquele olhar.

Meu caráter é mesmo formado por desvios,



mas posso ir melhor, agora, depois de ter guardado aqueles olhos em mim.

E se antes um pedaço de maçã, hoje quero a fruta inteira

Digo apenas: estou imune a transformações, e disso não posso me vangloriar. Sei, apenas, que estou, como se pode saber que um remédio não é o remédio apropriado, ou que aquilo é um monte de fezes e que com aquilo não há nada que se possa fazer. Estou trancado como um cofre, trancado dentro de mim, e todas as tentativas que empreendo de me mover ou de olhar para fora retrocedem contra mim.Sou, agora, como uma mensagem escrita numa língua desconhecida sobre a qual se debruçasse um ignorante de todas as línguas. Em vão.
Esse pensamento pesa sobre mim como um fardo.

É uma pena que ainda acredite no que escrevo.
É simples, apenas o faço.

as vezes sonho assim

Filippe:
Depois de sonhar algumas vezes,
percebi,
todo alguém precisa de outro.

Marcello:
Não perca seu tempo sonhando.
Um dia estava sonhando com o meu amor e eis que ele, na doçura de sua voz, me chamava e eu não escutara nunca.
Então, ele se cansou e partiu.
Quando acordei, havia somente o eco de seu relincho nas minhas orelhas

Filippe:
sonhar é preciso,
viver não é preciso.
não posso perder o tempo se eu não o tenho,
quando sonho é tudo infinito.
e assim fico tão consolado.

Marcello:
terei que te escrever uma mentira:
eu não sonho.
e eis que cubro-me com lençóis emaranhados
de suas palavras também mentirosas.
amanha acordará e viverá, não sonhará.
é como disse: se tento dormir, o eco de um relincho me desperta

Filippe:
ainda sim, sonho
entre mentiras e lençóis ,sonho.
enquanto vivo cubro-me, sonho.
Só sonho.
O coração seco e os olhos inchados
e ainda sim, sonho.

Marcello:
e foi assim que as minhas palavras perderam o sentido.

Filippe Porto e Marcelo D´lucas

obrigado por isso.

é que eu já te disse eu te amo mas tu não entendeu

Sentado na pequena varanda observa os carros passarem. Seu cabelo caído no rosto, os dentes cerrados e uma lágrima escorrendo tímida de seus olhos já vermelhos. Tenta segurar o que não consegue mais agüentar. Já era. Está cansado das noites estranhas em bocas estranhas por apenas um desejo de se afirmar.

E só estou me afirmando denovo.

ó, pronto, viu, não disse.

Vagarosamente suas perfeitas indelicadezas queimam em uma doçura viva. E eu gosto disso.

Agora vai.

Na verdade,
você pra mim, é problema seu.
Mas é que já existe muito de você em mim,
e isso me sufoca.
Pra mim é cheio ou vazio, tudo ou nada.
Isso é dificil pra você?


Vou ali ser eu um pouquinho.

Beija-Flor.

Onde ele quer chegar?
Aquelas mãos jogadas pra trás, em compasso binário
a cabeça sempre baixa.
Não pensa muito no futuro
Um dia vou perguntar ao nosso homem
o porquê de andar pra trás
apesar de saber que correr pra trás
é melhor do que andar adiante
e não chegar a lugar algum.

Sábio, nosso amigo.

Quando eu chego no chão.

Está ficando muito complicado ser alguém,
difícil andar com os olhos abertos
você sabe que não pode apenas ir
mas tá tudo certo
Assim, penso que não é tão ruim.