quarta-feira, 21 de outubro de 2009

como boa criança que sou

Nunca consegui contar quanto tempo durava aquele castigo. Era o tempo necessário para se perder a conta. Percebi então que se não aproveitasse o tempo do castigo para fazer outras coisas além de pensar, não conseguiria dar conta de tudo que era preciso fazer na infância.

domingo, 18 de outubro de 2009

o narrador falou

Às vezes só tem o começo da história, noutras, só o final, noutras ainda, apenas uma cenazinha que acontece lá pelo meio da narrativa. Mas eu sei tudo desde que começou. Apenas me calo. Ok, de vez em quando dou alguma dica, mostro algum caminho, mas tudo da maneira mais sutil possível.
Todos os personagens são boçais. Tratam a nós, narradores, como se fôssemos parte do cenário. Eu sinto falta de alguém.
Como seria linda uma história contada a dois!
Quero ir embora! E não vou pra Pasárgada, a Terra do Nunca; nem pra Hogwarts, Utopia ou o Sítio do Pica-pau Amarelo. Definitivamente não! Estes lugares, além de terem sido criados por escritores, ainda contêm centenas de personagens. Quero um lugar normal, com gente normal, como eu.

sábado, 17 de outubro de 2009

covarde

Não sabemos perder. Não sabemos nos perder.
Insistimos numa ilusória eternidade por pura covardia de compreender-nos melhor, o tempo, a vida, o outro.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

a única coisa colorida em casa é o mar na televisão

Percebi que não tinha mais jeito. A minha memória tinha se tornado a minha imaginação. Me conformei quando as lembranças da infância começaram a inventar alguns dos meus dias já velho. Apesar de ainda ser díficil aceitar que talvez algumas das recordações dos tempos de novo tenham sido livros escritos na areia.



Ventou.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

copacabana

Então tentou falar qualquer besteira com o homem que esbravejava pouco jeito em seu carioquês doce e impaciente. Enquanto o distraía, ganhava tempo para finalmente o analizar reservadamente, enquanto ele lavava copos. E minha destreza só foi em guardar na memória as primeiras palavras que trocaram aqueles dois em pleno balcão da cozinha da amiga.
A memória é nossa maior fantasia e toda história que precise recorrer a ela, será fantasiosa, mágica, mas não necessariamente falsa. A memória pode contar verdades especiais.



Verdades que ninguém entenderia.



sábado, 3 de outubro de 2009

longe

Eu confesso que tenho me sentido cansado com a interminável busca de algum sinal de que não sou uma peça avulsa.
Agora, depois desse tempo, censei das idas e vindas, dos sumiços e dos aparecimentos, das quase demonstrações de afeto que não se concretizam em uma postura firme. Entendam, não é preciso estar ao lado para que a pessoa sinta que você está.